Reforma Psiquiátrica
Democrática Italiana e suas influências.
Nesse post, iremos apresentar e
discutir a perspectiva da Psiquiatria na Itália. Traremos suas características,
contextualização histórica, bem como as influências de outras reformas
psiquiátricas realizadas em outros locais. Assim, nos aprofundaremos na Psiquiatria
Democrática e os fundamentos que impulsionaram o seu desenvolvimento.
Franco Basaglia, juntamente com
Antonio Slavich e outros jovens psiquiatras deram iniciativa a reforma hospitalar psiquiátrica, denominada, Psiquiatria Democrática. Em
1960 que foi iniciado as discussões e aplicações
das ideias elaboradas. Mais precisamente em Gorizia, uma pequena cidade da
Itália, na qual havia hospitais direcionados a saúde mental. Visitando este
local, Basaglia sentiu-se entrando em uma prisão, comparando o espaço aos
campos de concentração (AMARANTE, 2007).
Nesse
sentido, caracteriza esse período como contraditório
entre o que é verbalizado e o que é aplicado de fato na prática nas
instituições. Visto que, esses espaços existiam, embora já houvesse a negação
da institucionalização como um modelo válido de tratamento. A doença era
individualizada, conceituada fora do social e curada. Para além, a ação
terapêutica era executa, mas também negada. Assim,
para ele, a própria existência da instituição já seria um meio de controlar os
sujeitos, envolvendo um processo de mortificação e des-historicização (AMARANTE,
2007).
Nos
primeiros anos, as ações de Basaglia eram baseadas na Comunidade Terapêutica e
na Psicoterapia Institucional. Entretanto, nos próximos anos, não compreendia
mais esses espaços como um lugar efetivo de tratamento. Entendia que mesmo com
novas medidas administrativas ou de humanização não poderia-se chegar a uma
cidadania adequada aos doentes mentais, postulando uma nova proposta de mudança
e a negação da psiquiatria enquanto ideologia (AMARANTE, 2007).
Suas
práticas foram totalmente novas, prezava-se pelo combate não só às instituições
manicomiais, mas também todo o conjunto de saberes que orientavam a prática
nesses. Os aparatos jurídicos, legislativos e todo o social que fundamentam a
isolação e a patologização da diversidade humana também foram atacados. Após a
realização das ações direcionadas em Gorizia, ele e grande parte de sua equipe
atuou no fechamento de instituições de cunho psiquiátrico em Trieste. Criou-se
outros dispositivos de tratamento, ou melhor, deu origem a novas estratégias
substitutivas que dariam um fim às instituições psiquiátricas clássicas (AMARANTE, 2007).
Voltando
para as diferenças entre Psiquiatria Democrática e a Comunidade Terapêutica e a
Psicoterapia Institucional, o autor pontua que essas duas últimas foram
utilizadas por Basaglia, apenas como um meio de desestruturação das atividades
manicomiais. Porém, não como uma finalidade a ser cumprida, mas apenas uma
parte do processo. Algumas influências desses dois modelos podem ser vistas no
que diz respeito às assembleias e demais meios de comunicação entre os
pacientes, familiares, técnicos, dentre outros, sendo uma característica da
Comunidade Terapêutica. E também na utilização dos Centros de Saúde Mental
(CSM), semelhantes a Psicoterapia de Setor de origem francesa. A diferença nessa última, centra-se na integralidade do tratamento, não
como um espaço complementar igual na França, mas
centros de base territorial com a finalidade de desconstrução dos preconceitos
da sociedade para com as pessoas com sofrimento mental (AMARANTE, 2007).
Conclui-se
assim, que a proposta italiana foi revolucionária em comparação com as outras
propostas apresentadas em posts anteriores. A desinstitucionalização não foi
adotada como uma mera desospitalização como na Psiquiatria Preventiva, ela
prezava pelo fechamento dessas instituições. Adotou-se uma perspectiva da
doença em seu entendimento global, ou seja, compreendendo-a de forma complexa,
presente nos corpos e para além, presente no social (AMARANTE, 2007). A Psiquiatria
Democrática Italiana foi um movimento político em relação aos métodos
manicomiais. O manicômio ressaltou a exclusão advinda das diferenças entre
indivíduos, que transpareceu um caráter desumano perante a instituição. Apesar
desse fator, a Psiquiatria Democrática Italiana visava mais do que humanizar as
práticas manicomiais, mas também possibilitar denúncias aos métodos
institucionais utilizados, e impossibilitar a restrição de denúncias. Como
início, seria necessário mudar a perspectiva social para com “o louco”, que os
colocavam em situações restritas e sem possibilidade de falar sobre si mesmo,
mudando também as falas sociais que levavam ao tratamento manicomial.
(AMARANTE, 1998)
Deixamos,
como complemento aos interessados no assunto, uma dica de filme: “Dá pra
Fazer”. Um filme italiano sobre a reforma
psiquiátrica, retrata um pouco da história das cooperativas que surgiram na
Itália.
REFERÊNCIA
AMARANTE, P. coord. Loucos pela vida: a trajetória
da reforma psiquiátrica no Brasil [online]. In: _______. Revisitando os
paradigmas do saber psiquiátrico: tecendo o percurso do movimento da reforma
psiquiátrica. 2nd ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. Criança,
mulher e saúde collection. ISBN 978-85-7541-335-7. Disponível em SciELO Books.
AMARANTE, Paulo.
Das psiquiatrias reformadas às rupturas com a psiquiatria. In: _____. Saúde
mental e atenção psicossocial. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
2007. p. 37 - 59.