Reforma psiquiátrica: experiência francesa da
Psiquiatria de Setor e da Psiquiatria Preventiva
Hoje trabalharemos
em cima de outros dois momentos importantes ao que se refere a luta por
melhorias na relação entre os profissionais da saúde e no tratamento das
doenças mentais. Trataremos à Psiquiatria de Setor e a Psiquiatria Preventiva,
sendo ambas, de acordo com Amarante (2007), caracterizadas por acreditar que o
modelo hospitalar, como meio de tratamento estava esgotado, não tendo
eficiência. Suas propostas objetivam a criação de outros espaços para tal. A
Psiquiatria de Setor e a Psiquiatria Preventiva também são conhecidas como
Saúde Mental Comunitária. Nos finais dos anos 1950 e início de 1960, as
deficiências oriundas da Psicoterapia Institucional tornou-se evidente, ao modo
que notava-se a necessidade de realizar atividades para além das instituições,
ou melhor, fora delas.
Psiquiatria de Setor, criou-se os Centros de Saúde Mental (CSM), instalados em
diferentes regiões da França e em diversos setores administrativos. Nesses,
preocupava-se em acompanhar o sujeito mesmo após a sua alta, a fim de evitar
sua reinternação e até, a internação de novos casos. Assim, se subdividiu o
espaço hospitalar em diversos setores, sendo que em cada um teria uma equipe de
enfermaria responsável e no setor, internaria-se somente indivíduos
dessa região. Ao ser efetivado a alta do indivíduo, ele seria acompanhado pelo
CSM desse mesmo setor, o que proporciona o trabalho em equipe
multiprofissional, aumento na probabilidade de sucesso no acompanhamento do
tratamento, visto que já teria uma proximidade entre os profissionais e os
sujeitos. As vantagens desse novo modelo foi a proximidade dos próprios
internos e as possibilidades de conhecerem novos espaços e pessoas, além de
conseguirem manter um contato com os familiares, podendo ter notícias sobre
suas vidas, receber objetos e alimentos como exemplo (AMARANTE, 2007).
A Psiquiatria Preventiva, também
conhecida como Saúde Mental Comunitária, teve como marco importante uma
pesquisa realizada nos Estados Unidos em 1955. Essa pesquisa, revelou as
condições precárias e maus tratos que os pacientes enfrentavam nos hospitais
psiquiátricos. O resultado foi a maior preocupação com a redução e prevenção
das doenças mentais nas comunidades. A chave desse período foi a tentativa de
identificar as doenças precocemente, como uma espécie de ‘busca de suspeitos’,
ou melhor, uma triagem que, de acordo com o pensamento dessa época, tentava-se
prevenir as desordens. Realmente uma caçada de suspeitos de desordens mentais
(AMARANTE, 2007).
Pautados no postulado da História
Natural da Doença, compreendia-se o desenvolvimento do processo saúde-doença
com uma linearidade, adotando a prevenção em três níveis. A prevenção primária
voltada para as intervenções que podem ocasionar a formação da doença mental,
podendo agir no indivíduo ou no meio (ex: vacina e tratamento da água). Já a
prevenção secundária preocuparia-se com o diagnóstico precoce e em evitar a
prevalência da doença no indivíduo. Prevenção terciária, sendo a última,
busca-se a reabilitação do indivíduo à vida social (AMARANTE, 2007).
Apresenta-se nessa
época a noção de crise, essa entendida com base na noção de ‘adaptação e
desadaptação social’. Elas poderiam ser Evolutivas, quando as doenças mentais
eram relacionadas a passagem de um período da vida para outra sem uma
organização, ao nível físico, emocional ou social. Poderiam ser também
Acidentais, suscitadas por perdas ou ricos, tal como desemprego ou falecimento
de alguém próximo. Compreendia-se essas crises, como uma oportunidade de
transformação e crescimento para o sujeito. Assim, assumia-se um caráter
comunitário, as equipes de saúde mental iam nas comunidades, identificaram e
trabalhavam em cima dessas crises. Relaciona-se com o surgimento da noção de
‘desinstitucionalização’ nos hospitais, ou seja, diminuir o tempo de
permanência dos indivíduos nos hospitais e, para além, evitar sua entrada,
sendo utilizado apenas em casos especiais (AMARANTE, 2007).
Foram criadas várias
oficinas protegidas, centros de saúde mental e outros espaços para substituição
dos hospitais. O objetivo era que os hospitais fossem pouco utilizados como já
citado, isso por conta das ações preventivas e dos serviços comunitários que
diminuiria a demanda. Contudo, houve um aumento nessa demanda psiquiátrica, não
só nas atividades extra-hospitalares, mas também nos encaminhamentos e
concentração dos doentes mentais nos hospitais. Os novos serviços realizados se
tornaram um meio de captar e encaminhar os doentes mentais e não um serviço que,
de acordo com a proposta, trataria os indivíduos na comunidade e
desqualificaria o espaço hospitalar como único meio de tratamento (AMARANTE,
2007).
Houve assim, diversos pontos
positivos na Psiquiatria de Setor, como o tratamento orientado por diversos
profissionais e não mais acreditando na onipotência do médico. Assim,
psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais passaram a integrar esse cuidado,
possibilitando a reflexão dos indivíduos como sujeitos para além da ordem
biológica. Já na Psiquiatria Preventiva os efeitos positivos concentram-se em
seus objetivos revolucionários, embora alguns acreditam que foi mais um meio de
medicalização da ordem social, da imposição de normas e princípios sociais
(AMARANTE, 2007).
REFERÊNCIAS
AMARANTE, Paulo.
Das psiquiatrias reformadas às rupturas com a psiquiatria. In: _____. Saúde
mental e atenção psicossocial. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
2007. p. 37 - 59.
Achei super criativo o blog, parabéns!
ResponderExcluirÓtima síntese! Abordou os aspectos importantes de forma clara.
Parabéns pelo texto!!! Ficou fácil a compreensão e a escrita bem clara!!!
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