Reforma
psiquiátrica: experiência francesa da Psicoterapia Institucional
Na postagem
anterior, abordamos sobre Comunidades Terapêuticas e Antipsiquiatria, dois
movimentos que se opõem aos métodos asilares e psiquiátricos. Nesta postagem,
trataremos sobre a Psicoterapia Institucional, que também foi um movimento
oponente à psiquiatria e práticas asilares. Ao fim deste post, esperamos que
nosso texto ajude-os a compreender os três conceitos descritos e suas
semelhanças e diferenças.
Daumezon e
Koechlin em 1952 definiram o termo Psicoterapia Institucional como o trabalho
realizado por François Tosquelles no Hospital Saint-Alban, na França.
Tosquelles era refugiado da ditadura do General Franco na Espanha e começou a
trabalhar na França em período delicado, por conta da Segunda Guerra Mundial.
Em soma à instabilidade econômica e social desse período, tinha-se também os
asilos e hospitais psiquiátricos negligentes com seus pacientes. Tosquelles deu
início a transformações dentro do Hospital Saint-Alban, que em um primeiro momento
de reforma tornou-se um ambiente de resistência ao nazismo e, simultaneamente,
inseriu iniciativas de cura e proteção a refugiados. Esse hospital passou a ter
visibilidade como exemplo de luta contra tratamentos totalitários e contra
segregações promovidas pela psiquiatria. Em meio a essas transformações, Tosquelles faz o uso da terapêutica ativa de Herman Simon (leia
sobre ele no post anterior: <https://psicobloggays.blogspot.com/2019/08/a-luta-contra-as-repressoes-da.html>) (AMARANTE, 1998).
Tosquelles tentou
restaurar o potencial da psicoterapia dentro da psiquiatria. A função do
hospital psiquiátrico era tratar das pessoas com doenças psicológicas e nada
além disso. Tosquelles considerava que se os hospitais fossem reformulados e
aderissem dedicação à prática da terapia, as pessoas com doenças mentais
poderiam ser curadas e devolvidas à sociedade. A Psicoterapia Institucional
recebeu essa nomenclatura pela novidade de considerar doentias as
práticas das instituições e por compreender a necessidade de tratamento nos
próprios métodos da instituição (AMARANTE, 1998).
A Psicoterapia
Institucional objetivou a coletividade entre técnicos e pacientes para refutar
as práticas hierárquicas presentes na psiquiatria. O movimento evoluiu e se
multiplicou para outros hospitais franceses e com isso a influência de Herman
Simon diminuiu (AMARANTE, 1998). Segundo Flerming (1976:45 apud AMARANTE,
1998), o período pós guerra foi marcado pela psicanálise e a Psicoterapia
Institucional tentou incorporá-la.
A Psicoterapia
Institucional restringe sua crítica à instituição, ignorando fatores sociais. O
objetivo em específico era alterar a estruturação hierárquica da psiquiatria, e
ignorou a necessidade de alteração metódica da psiquiatria (VERTZMAN et al.
1992:19 apud AMARANTE, 1998).
A partir do que foi
redigido, nota-se que os movimentos Comunidades Terapêuticas, Antipsiquiatria e
Psicoterapia Institucional tinham o objetivo de crítica à psiquiatria. A
Comunidade Terapêutica teve sua eficiência por atrair a preocupação da
comunidade. A Psicoterapia Institucional teve semelhanças à Comunidade
Terapêutica, como o uso da terapêutica ativa e o objetivo de lutar contra
segregação hospitalar, porém sua diferença maior, foi o uso do espaço para denúncias
à opressão e resistência ao nazismo. Dentro do contexto da Antipsiquiatria,
destaca-se a crítica em relação ao normal e patológico delimitado por médicos e
a exclusão de fatores sociais, o que pode ser visto como um ato de segregação
social e rotulação individual. Assim, é possível delinear a semelhança de
crítica à segregação presente nos hospitais e práticas psiquiátricas.
AMARANTE, P. coord. Loucos pela vida: a trajetória
da reforma psiquiátrica no Brasil [online]. In: _______. Revisitando os paradigmas
do saber psiquiátrico: tecendo o percurso do movimento da reforma psiquiátrica.
2nd ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. Criança, mulher e saúde collection. ISBN 978-85-7541-335-7. Disponível em SciELO Books .
Nenhum comentário:
Postar um comentário